domingo, 20 de março de 2011

Em tempos de Big Brother Brasil...


“A minha TV tá louca, me mandou calar a boca
e não tirar a bunda do sofá (...)
Música “Xanéu Nº 5” - Teatro Mágico

Pergunta polêmica: VOCÊ ASSISTE AO PROGRAMA BIG BROTHER BRASIL?
Alguns responderão imediatamente, sim. Outros titubearam. Muitos negaram com veemência e elucidaram os diversos motivos pelo qual tal programa não merece sua atenção e assim, ironicamente, demonstrarão profundo conhecimento sobre o mesmo. Em inúmeros sites, revistas e artigos são realizados diariamente análises e críticas por aqueles que seguem o Big Brother desde sua primeira edição, por aqueles que condenam esse tipo de espetáculo da mídia e até mesmo por navegantes curiosos que não compreendem a repercussão de um programa que, em sua décima primeira edição, já não parece tão interessante.
É incrível como esse tal de BBB desperta debates acirrados sobre assuntos diversos - beleza, gênero, relacionamentos, orientação sexual, comportamento – tornando-se o evento televiso mais procurado na rede virtual e gerando muito lucro a emissora que o produz e as empresas que disputam o merchandising. Dizem que, atualmente, o declínio da audiência é proporcional ao incrível aumento do faturamento do BBB: aproximadamente em torno de 2 bilhões adquiridos majoritariamente pela disputa entre as grandes empresas que o desejam patrociná-lo. Pois, ainda que caia o número de pessoas que o assiste na televisão, aumenta aqueles que seguem pela internet, especialmente pelo youtube, em vídeos que são assistidos por milhões de pessoas. Existe marketing melhor?
Há também os diversos emails socializados na rede, com críticas severas ou, em raras exceções, com declarações de amor a Pedro Bial, o famoso jornalista que cobriu a guerra do golfo, escreve poesias e, por que não ou por que sim, apresenta esse reality show. Ira mesmo ele desperta quando chama os confinados do programa BBB de heróis. Aí sim, chovem emails furiosos discutindo o que é ser herói na sociedade atual.
E o que leva milhares de pessoas a se inscreverem no BBB e a se expor em um programa desses ao julgamento de uma nação? É para ganhar muito dinheiro? Quem não o quer. Ser conhecido em instantes de fama na Sociedade do Espetáculo? Parece tentador. Mas, a que preço? Há pessoas que os acompanham 24 horas, no paper view ou pela internet. Isso é um novo conceito de voyeurismo? Será?
E diariamente no BBB, uma pergunta paira no ar: jogar ou não jogar? Eis a questão! Pois, a partir dessa questão, o público vota, elege mocinhas, heróis e vilões. Alguns divergem da opinião da maioria alegando que, com certeza, o programa é totalmente editado e ganha apenas o escolhido pela emissora que forja um personagem. Outros apenas se divertem com o famoso jogo. Outros desligam a televisão.
E eu? Ah, meu caro, eu penso.
Acredito que o problema não é assistir ao programa. Cada um escolhe a programação que te apetece. Isso é singularidade. E quando a desrespeitamos, não podemos falar em liberdade. Só é problema quando você se aliena completamente ao que vê, seja lá qual programa for, e deixa de pensar. Afinal, quem não pensa é pensado. Decifra-me ou te devoro, diria a esfinge.
E o que penso?
Penso na primeira vez em que vi a vinheta do BBB, anunciando o programa com aquele olho robótico com o símbolo do Reality Show. Choquei. Fiquei paralisada. O que significa aquilo?
Big Brother, como todos devem saber, não é um nome qualquer, não foi inventado ou escolhido aleatoriamente. É uma referência direta a uma obra de Eric Arthur Blair, conhecido mundialmente pelo seu pseudônimo George Orwell. Ele era um jornalista inglês que acreditava no socialismo utópico e se decepcionou profundamente com o socialismo real. Dessa decepção nasceram duas de suas obras importantíssimas: “A revolução dos bichos” e “1984”.
Eu não tinha conhecimento delas até a faculdade e, particularmente, interessei-me por elas quando uma professora muito querida e atéia disse que, após ler esses dois livros, precisou ler o evangelho para não desacreditar no mundo. Fiquei surpresa com aquela declaração e decidi tirar minhas próprias conclusões sobre o assunto.
Realmente, quando se lê “A Revolução dos Bichos” e “1984” é preciso lembrar-se de respirar. São livros que tratam de sociedades que se propuseram a ser justas e igualitárias, mas que se tornaram totalitárias, autoritárias, gerando sofrimento e dor tanto quanto a sociedade que substituiu ou essa em que vivemos.
Quando caminhamos para o desfecho desses livros, perguntas essenciais inundam o pensamento: é possível uma sociedade justa e igualitária? É a sociedade capitalista o problema ou o ser humano em qualquer forma de sociedade será corrupto? Por que o socialismo falhou? Há uma alternativa ao capitalismo? O ser humano é realmente maquiavélico? Para onde vamos nós?
E é justamente em “1984” que somos apresentados ao assustador personagem “Big Brother”, o Grande Irmão. Ele é um enigmático ditador, em uma sociedade totalitária, personificação de um Estado que controla a tudo e a todos através de câmeras que vigiam a população 24 horas por dia em todos os lugares, até mesmo nos momentos de maior intimidade e que mantém seu poder a qualquer custo. Nessa sociedade as pessoas não podem ter opinião própria, não podem pensar e nem se rebelar. Imagine só sua vida controlada assim!
O personagem Big Brother é tão forte, tão significante, que, segundo a Wikipédia, se encontra na Lista das 101 pessoas mais influentes que não viveram. Dá para acreditar? E é justamente desse conceito de Big Brother que nasce o programa Big Brother Brasil. Não é assustador? O apresentador, o famoso Pedro Bial, seria justamente a representação do ditador! E nós, o público, os espiões do Estado que vigiam pelas câmeras os confinados!
É tão estranho, você não acha, um programa da sociedade contemporânea que prega a democracia e a liberdade ter tanto em comum com um livro anti-utópico que foi escrito em uma época que o mundo estava dividido por ideais de sociedade?
Em tempo de Big Brother, eu te pergunto, para onde vamos nós?
Pois, houve se um tempo em que a sociedade questionava as injustiças sociais e buscava alternativas, ainda que infrutíferas como foi o socialismo. Mas, e hoje? Trocamos os ideais de uma sociedade por 15 minutos de fama? É a sociedade do espetáculo de Debord? A sociedade líquida de Bauman? Ou podemos criar algo melhor?
Não sei. São tantas perguntas. Eu só sei, Baby, que a gente “precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina, da gasolina...”

Cena do Fime baseado no livro "1984" de George Orwel. Olhem o Grande Irmão:

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